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Por Bruno Murito, Giba Perez, Jéssica?? Maldonado e Sergio Santana — Rio de Janeiro
05/12/2023 03h00 Atualizado 05/12/2023
O histórico primeiro turno do Botafogo?? indicava o fim do jejum de 28 anos sem título do Brasileirão. Avassalador, o time abriu 13 pontos de vantagem?? na metade do campeonato. Porém, a expectativa para levantar a taça em 2023 ficou no imaginário da torcida.
Da falta de?? comando no Brasil à centralização das decisões importantes em John Textor, o Botafogo desperdiçou a maior vantagem da história dos?? pontos corridos no Brasileiro. O time teve cinco treinadores ao longo do torneio e deu adeus ao título antes mesmo?? da última rodada.
Abaixo, o ge mostra a história de um ano cruel para o Alvinegro.
Superação e recordes
O Alvinegro começou o?? Brasileirão pressionado depois de um Campeonato Carioca fraco. Foi o único dos quatro grandes a não chegar às semifinais e?? teve que disputar a Taça Rio para garantir vaga na Copa do Brasil de 2024.
Internamente, Luís Castro sempre avisou à?? diretoria que precisava de tempo para treinar e reclamava do calendário do futebol brasileiro, afirmando que o Carioca não dava?? condições ideias de preparação da equipe. O português chegou a ter a demissão debatida após a eliminação no estadual, mas?? recebeu voto de confiança de John Textor.
A relação entre o português e o norte-americano, inclusive, sofreu um choque no começo?? do ano. O treinador pediu seis reforços de nível alto em reunião no fim de 2023, indicando posições carentes no?? elenco. Textor, em investimento menor, contratou Luís Segovia, Carlos Alberto, Marlon Freitas e Di Plácido para o início do Carioca.
Castro,?? irritado com o pedido não atendido, passou a criar narrativas com o intuito de fazer a insatisfação ser propagada. Em?? coletivas, mandou indiretas sobre a falta de reforços em alguns momentos.
Após a fraca campanha no Campeonato Carioca, chegaram Júnior Santos?? - este indicado por Castro - e Matías Segovia.
Com o início do Brasileirão, o Botafogo se transformou e empilhou bons?? resultados. O time venceu as três primeiras partidas do Brasileirão pela primeira vez na história.
E não foi só uma fase:?? o Alvinegro passou por cima de adversários na primeira parte do campeonato e confirmou que merecia a liderança após vencer?? o Palmeiras por 1 a 0 no Allianz Parque.
Protestos contra Luís Castro no Nilton Santos — 
: Reprodução
A saída de?? Luís Castro
Luís Castro recebeu uma sondagem do Al-Nassr, da Arábia Saudita, ainda nas primeiras rodadas do Brasileirão. O contato inicial?? evoluiu para uma proposta, que balançou o português.
O treinador seguiu comandando o Botafogo normalmente em alguns jogos mesmo com a?? notícia vazada e a pressão interna, vinda de dirigentes que o cobravam por uma resposta, e externa, com a torcida?? apreensiva pelo futuro do comandante.
Internamente, Castro chegou a afirmar que pensaria em ficar caso recebesse uma proposta de renovação e?? aumento salarial. Ele era quase um "manager" no Alvinegro, com controle em praticamente todos os setores que envolviam a bola?? rolando - foi dele a indicação para a contratação de João Paulo Costa, coordenador de metodologia, por exemplo.
Textor, porém, avisou?? que não entraria em conversas por um novo contrato tão cedo - o vínculo do português se encerraria em dezembro?? de 2023 - e não queria dar um aumento para Castro, que ganhava R$ 1,5 milhão por mês (contando toda?? a comissão técnica).
O comandante decidiu que seguiria para o time asiático ainda no comando do Botafogo. Ele treinou o time?? contra Palmeiras e Magallanes, na Sul-Americana, já com a decisão tomada.
A resposta definitiva foi indicada justamente após a partida contra?? o Palmeiras no Allianz Parque. A despedida foi diante do Magallanes, em 29 de junho, em jogo marcado por protestos?? e vaias ao treinador, que abandonou o projeto para treinar Cristiano Ronaldo. No dia 30, houve a oficialização da saída.
"O?? Botafogo é maior que qualquer nome"
Ao receber sinais de que Luís Castro não permaneceria, John Textor ligou para Cláudio Caçapa,?? então auxiliar técnico do Lyon, para assumir como interino. O ex-zagueiro passava férias no interior de Minas Gerais com a?? família e teve menos de dois dias para arrumar as malas e viajar para o Rio de Janeiro.
Na conversa, ficou?? acordado que Caçapa só treinaria o time por quatro jogos, tempo que coincidia com o fim das férias no futebol?? europeu e o retorno aos trabalhos no Lyon. Paralelamente, Textor tocava negociações com Bruno Lage, escolhido desde o princípio como?? nome ideal para substituir Castro.
Enquanto isso, em outro continente, Textor seguia conversando com Bruno Lage. Semanas antes, o treinador havia?? recusado o Atlético-MG porque não queria vir para o Brasil. A história foi diferente com o Botafogo porque o norte-americano?? colocou a possibilidade de treinar o Lyon, clube que faz parte da rede multiclubes, na linha.
Caçapa arrumou as malas e?? chegou ao Botafogo em um sábado, um dia antes de o clássico contra o Vasco. O ex-zagueiro se concentrou nas?? conversas para conhecer o elenco. Na parte tática, confiou quase inteiramente nas instruções passadas por Lúcio Flávio, auxiliar do clube?? que acompanhou o trabalho de Luís Castro de longe.
Deu certo. O time abraçou Caçapa, que sabia "falar a língua" dos?? jogadores e soube extrair o que eles precisavam no momento. A estreia foi com vitória no Estádio Nilton Santos. No?? apito final, na transmissão da Globo, Luis Roberto resumiu o sentimento do torcedor naquele momento.
- O Botafogo é maior do?? que qualquer nome.
Após apito final, Luis Roberto diz: "Botafogo é maior do que qualquer nome"
O furacão Bruno Lage
Bruno Lage assumiu?? o comando do Botafogo após a 15ª rodada, quando o time tinha 11 pontos à frente do Flamengo. O português?? saiu na 25ª, com sete de vantagem sobre o Bragantino.
O português chegou ao clube com discurso de transição pacífica, afirmando?? internamente que faria mudanças pontuais na forma como o time vinha atuando com Luís Castro. Os primeiros jogos foram positivos,?? e o Alvinegro fechou o primeiro turno em alta, com vitória por 3 a 1 sobre o Internacional.
Aos poucos, porém,?? o treinador considerou que o estilo de jogo do Botafogo estava marcado e fácil para os adversários anularem. Por isso,?? começou a testar mudanças estruturais, principalmente na Sul-Americana. A principal foi Tchê Tchê atuando como meia pela direita para abrir?? espaço a Gabriel Pires no meio - o camisa 14 atuara com o técnico no Benfica e era um dos?? atletas favoritos dele no elenco.
Bruno Lage fez mudanças no time — 
: André Durão
Se Lage tivesse permanecido, a tendência é?? que as mudanças não tivessem parado por aí. O português, semanas antes de ser demitido, fazia testes com o zagueiro?? Bastos de lateral-direito, já que considerava Di Plácido pouco confiável na defesa - o angolano, porém, chegou ao Alvinegro fora?? do ritmo de jogo e não entrou em campo com o antigo técnico.
Fora das quatro linhas, Lage adotava postura explosiva?? em entrevistas coletivas. A mais marcante foi após a derrota contra o Flamengo, quando entregou o cargo. A declaração deixou?? todos incrédulos, até mesmo dirigentes. A Intenção do português era tirar o foco do resultado dos atletas.
Bruno Lage coloca o?? cargo à disposição no Botafogo
Tal postura começou a criar uma ponta de instabilidade com as lideranças do elenco. Apesar de?? terem entendido a intenção do português, muitos dos jogadores mais experientes do Alvinegro não concordaram com a ação.
O estopim do?? rompimento entre Lage e jogadores foi contra o Goiás. O português havia indicado que começaria com Tiquinho Soares e Diego?? Costa juntos no time titular, mas avisou que o camisa 9 seria reserva apenas no almoço, horas antes da partida.?? O Alvinegro saiu perdendo e empatou no segundo tempo com um gol justamente do artilheiro.
Na preleção, quando Lage anunciou que?? Diego Costa jogaria, o clima no refeitório no hotel onde o clube se concentra na Zona Oeste do Rio de?? Janeiro foi de velório. Todos calados. Minutos depois, Tiquinho se levantou e desejou sorte a Diego Costa, que o abraçou.?? O camisa 9 não falou com o português na ocasião, assim como outros jogadores.
Até funcionários foram pegos de surpresas. O?? Nilton Santos preparava ativações focadas no artilheiro naquele que seria o #TiquinhoDay, uma campanha criada por torcedores nas redes sociais.?? Tudo foi postergado às pressas. A situação entre as partes ficou insustentável.
Lúcio Flávio, jogadores no comando e viradas
No dia seguinte,?? um grupo de 10 jogadores, liderados por Rafael, conversou com a diretoria explicando que não havia entendimento com Lage. O?? pedido foi pela saída do português e pela efetivação de Lúcio Flávio, que fazia parte da comissão permanente e era?? homem de confiança dos atletas.
Foi o lateral quem representou os jogadores nas conversas com John Textor, feitas de forma online?? - o empresário estava fora do Brasil à época. Tomando as dores do elenco, o camisa 2 falou que os?? jogadores não estavam gostando das ideias de Lage e "bateu no peito", garantindo que eles seriam capazes de vencer o?? título.
A diretoria, sob comando de John Textor e André Mazzuco, aprovou a ideia, sob a justificativa de que o elenco?? seria capaz de vencer o campeonato com aquilo que havia sido construído anteriormente.
Sem uma liderança forte no Brasil, o martelo?? é praticamente batido por John Textor, que passa a maior parte do tempo fora do país. De longe, ele acreditou?? na possibilidade de ganhar o título graças à harmonia entre os jogadores e o novo comandante.
Lúcio Flávio assumiu como treinador?? e buscou repetir o que havia funcionado com Luís Castro, descartando as mudanças que Lage tentara fazer. Fora das quatro?? linhas, conversava muito com os jogadores e tentava passar confiança.
Em campo, porém, não houve sucesso. Depois do início com duas?? vitórias, o Botafogo ruiu e teve os dois jogos mais dolorosos neste período, ambos em casa. Contra o Palmeiras, a?? sensação de que o título estava nas mãos com 3 a 0 no intervalo evaporou após a derrota por 4?? a 3 com gols no fim; diante do Grêmio, nova virada marcante, com show de Suárez.
Internamente, houve a sensação de?? que faltava pulso para Lúcio Flávio, que não conseguia se impor diante de alguns jogadores. O ex-meia, de perfil mais?? quieto, muitas vezes era ignorado na beira do campo por atletas.
Nas partidas, parte das instruções para os jogadores partiam dos?? próprios atletas que estavam no banco de reservas. Em um emaranhado de instruções, ordens e xingamentos, eles mesmos pouco se?? entendiam. Lúcio Flávio não se conseguia se impor.
Assim, os jogadores muitas vezes mandavam no vestiário. De longe, Textor tentava resolver?? os problemas do futebol. O CEO Thairo Arruda se concentra em questões fora de campo, como acordos comerciais, ativações no?? Nilton Santos e pagamentos de dívidas.
Tiquinho em Botafogo x Palmeiras — 
: André Durão/ge
Clube social x SAF
O próprio Botafogo rachou?? na saída de Lúcio Flávio. Com o Brasileirão em risco, a diretoria do clube social, liderada pelo presidente Durcesio Mello,?? entrou em contato com Cuca na tentativa de fechar com o treinador.
John Textor, também dono do OL Reign, um dos?? principais times do futebol feminino no mundo, travou o acerto com a SAF por causa da condenação de Cuca por?? ato sexual com menor e coação na Suíça quando era jogador nos anos 80.
Quando o nome de Cuca surgiu, novamente?? os jogadores fizeram força pela mudança no cargo e manifestaram que ele seria um bom nome para assumir. Mas a?? diretoria da SAF rechaçou a ideia.
Lei do silêncio
Diante da má fase, derrotas contra rivais diretos e a longa sequência sem?? vitórias, o Botafogo viu os adversários se aproximarem. Pelo menos externamente, a voz dos líderes do elenco sumiu. Nos resultados?? negativos, eles não apareceram para dar entrevistas. A bronca sobrava para Lúcio Flávio, bombardeado por críticas.
Exemplo claro foi na partida?? contra o Grêmio. Após a derrota, o clube afirmou que nenhum jogador falaria com a imprensa em São Januário. Um?? a um, os atletas foram escoltados por cerca de dez policiais dos vestiários até os ônibus. O atacante Diego Costa,?? contudo, decidiu parar diante dos microfones.
Escolta dos jogadores após Botafogo x Grêmio — 
: Jéssica Maldonado / ge
Nas entrevistas de?? saída de campo, dois jogadores apareceram com frequência nos momentos ruins: Danilo Barbosa e Tchê Tchê. O primeiro falou no?? empate com o Fortaleza; o segundo, diante de Grêmio e Vasco. Diante do rival carioca, o camisa 6 foi chamado?? na zona mista de São Januário, mas seguiu em frente.
- Só eu falo, pô - respondeu Tchê Tchê a caminho?? do ônibus do Botafogo.
Jogadores do Botafogo são escoltados em Botafogo x Grêmio
O clima nos bastidores batia com o que era?? visto no campo. Diego Costa, um dos que raros que aparecia para dar entrevista, era um dos atletas que mais?? cobrava pela falta de desatenção nos discursos pós-jogo. O zagueiro Philipe Sampaio, respeitado pelo elenco, foi outro que deu broncas?? nestas derrotas marcantes.
Queda de rendimento de jogadores
Os líderes do elenco também conviviam com queda brusca no nível técnico de suas?? atuações. A defesa, tão elogiada no primeiro turno, virou presa fácil para qualquer ataque - até dos times que lutam?? para não cair - diante das quedas de Lucas Perri, Marçal, Victor Cuesta e Marlon Freitas. Na frente, Eduardo e?? Tiquinho Soares nem de perto lembraram os destaques do primeiro turno.
Tiquinho, melhor jogador do Brasileirão no primeiro turno, convive com?? problemas pessoais fora de campo. O Botafogo deu suporte, e o camisa 9 afirmou que queria continuar jogando. Em campo,?? porém, foram só quatro gols no segundo turno.
Tchê Tchê, Victor Sá, Júnior Santos e Gabriel Pires subiram de rendimento, mas?? isso não foi suficiente para compensar a queda vertiginosa da espinha dorsal da equipe. O desempenho no segundo tempo foi?? de rebaixado.
Perri e Adryelson lamentam gol sofrido contra o Coritiba — 
: Gabriel Machado/AGIF
Perda da liderança com drama
Diante do cenário,?? Lúcio Flávio foi demitido a cinco jogos do fim porque Textor considerou inaceitável o recuo do time contra o Bragantino,?? quando levou o empate nos acréscimos. Tiago Nunes, nome com que o clube negociava para assumir em 2024, aceitou adiantar?? o acordo e assumiu a missão de tentar o título.
Assim como Lúcio, Tiago tentou repetir a formação original, do começo?? do campeonato com Luís Castro, nos primeiros treinamentos. A forma de jogar foi um pouco diferente, mas a formação tática?? era a mesma. A estreia contra o Fortaleza foi ruim, e o Alvinegro conseguiu um empate por 2 a 2?? jogando pior do que o adversário.
O gaúcho, assim como Bruno Lage, logo percebeu que precisava mudar. Não havia muito tempo?? para treinamentos, mas Nunes escalou um 3-4-3, com Tchê Tchê e Victor Sá de alas e Danilo Barbosa de zagueiro.
A?? mudança veio, principalmente, para colocar Danilo Barbosa no time e tirar Leonel Di Plácido. O argentino não caiu nas graças?? do treinador, que avisou para a diretoria dias depois da partida contra o Santos que não contaria com ele para?? 2024 - na ocasião, o argentino falhara no gol marcado por Messias aos 44 minutos do segundo tempo.
Como se já?? não bastassem os erros de planejamento durante o percurso, o capítulo final do Botafogo no Brasileirão contou com doses cavalares?? de crueldade. O time tomou gols nos minutos finais contra Bragantino, Santos e Coritiba - este, após Tiquinho marcar um?? gol de pênalti aos 51 minutos. Com seis pontos deixados pelo caminho, o time teria chegado às últimas rodadas como?? líder.
Desabafo de Diego Costa e a pá de cal
O melancólico empate sem gols com o Cruzeiro em um vazio Nilton?? Santos deu fim às chances de título do Botafogo. Após 31 rodadas na liderança, o time chegaria ao compromisso final?? fora do G-4 e dependendo do resultado de outros para se garantir diretamente na Libertadores de 2024.
O pós-jogo foi marcado?? por uma forte entrevista de Diego Costa, que disse enxergar falta de humildade do elenco. A fala não caiu bem?? na maior parte dos jogadores, mas o camisa 19 resolveu jogar os sentimentos no ventilador.
Botafogo fica a 10 jogos sem?? vencer e Diego Costa afirma: "O torcedor tem total razão de ficar insatisfeito, nós somos os culpados"
A frase do camisa?? 19, apesar de forte, foi o reflexo de um Botafogo que sucumbiu à pressão de ser campeão e não soube?? lidar com o peso de um título que era parecia certo até para os adversários.
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